sábado, 8 de junho de 2013

Enrique Pichon Rivière

Contribuições de Enrique Pichon Rivière

Nascido (1907) em Genebra, Enrique Pichon Rivière, é exemplo de resiliência, pois sua vida é marcada de mudanças bruscas e perdas significativas. Ainda criança, muda-se para a Argentina, depois da morte de sua mãe e da união de seu pai com sua tia (irmã de sua falecida mãe).  Aos 18 anos, inicia os estudos em medicina, mais tarde, se especializa em Psiquiatria e, na Argentina, é quem estreita os laços da psicanálise com a psiquiatria. As máximas pichonianas vão de encontro às tradicionais que dissociam mente e corpo. Por isto, ele também é um referencial para a psicossomática.  

Pichon faz uso da dialética marxista nos estudos das diversas teorias que lhe baseiam e as integra às suas práticas de intervenção são elas: Ciências Sociais, Psicanálise, Psiquiatria e Psicologia Social. A partir de então, desenvolve o ECRO (Esquema Conceitual, Referencial e Operativo), conceituando-o como um conjunto articulado de conhecimento, um sistema de ideias que proporciona linhas de trabalho e investigação, aludindo ao campo, ao segmento da realidade sobre a qual se pensa e opera, possibilitando uma modificação criativa ou adaptativa.

É um aparelho de pensar que está estruturado na mente (a partir das representações internas do sujeito), no corpo (representação do esquema corporal) e no mundo (representações do ambiente ecológico e social do sujeito). É o que permite o sujeito distinguir, sentir, organizar e operar na realidade. Saliente-se que o sujeito pichoniano é visto não em uma situação de harmonia com o mundo, mas em uma relação conflitiva e contraditória. O sujeito aqui é formado, ou melhor, é o resultado da interação entre os indivíduos, os grupos e classes, indicando sua carência de socialização.

Pichon também desenvolve a Teoria do Vínculo, conceituando-o como uma estrutura complexa e multidimensional que abriga sistemas de pensamentos, afetos e modelos de ação, maneira de pensar, sentir e fazer com o outro, que constituem as primeiras sustentações do sujeito e as primeiras estruturas identificatórias que darão início à realidade psíquica da criança. Este preceito pode remeter às socializações primária (que acontece no seio familiar) e secundária (acontece nas demais instituições além da família).

Em sendo assim, admite-se que o sujeito já nasce imerso em uma trama vincular que envolve expectativas em torno dele, antes mesmo do seu nascimento. Há de saber da incapacidade de sobreviver sem a assistência do outro. A presença do outro para o sujeito reconhecer a si mesmo é de extrema importância.

Saliente-se que a noção de Grupo Operativo nasce da técnica terapêutica de atendimento grupal – inclusive utilizava-se dos esportes para tal – que, inicialmente fora destinada a portadores de psicoses, pacientes do Hospital Mercedes, a fim de sua ressocialização. Mais tarde a técnica passa a ser usada nos âmbitos organizacionais, educacionais etc.

O Grupo Operativo é um esquema idealizado por Pichon para avaliar o movimento no interior de um grupo durante a realização de uma tarefa e seu resultado final, quando se tornam manifestos os conteúdos que no início do processo encontravam-se latentes. O princípio básico é promover, por meio de técnicas integrativas, o processo de mudança do grupo. Esta mudança acarreta no medo das perdas das condutas existentes e o medo do ataque da nova situação.

Para auxiliá-lo no funcionamento do Grupo Operativo, Pichon faz uso do que chama de cone invertido, um esquema de vetores que verifica a operatividade no grupo. Estes vetores são:

·    Pertença: sentimento de fazer parte do grupo.
·    Cooperação: contribuição para o desenvolvimento do grupo.
·     Pertinência: centramento nas tarefas.
·    Comunicação: intercâmbio de informações.
·    Aprendizagem: conscientização da natureza real da tarefa.
·   Tele: empatia entre os participantes.

Fonte da imagem: http://blogeleuza.blogspot.com/2008/02/cone-invertido-hpichn-rivire.html

Os indivíduos assumem diferentes papéis nos grupo:

·   Líder de mudança: é o componente que provoca mudança através de sugestões.
· Líder de resistência: é o que tenta manter o grupo na mesma situação em que se encontra, ou seja, é o conservador.
·   Porta-voz: é o que traduz os sentimentos e as ideias que circulam no grupo.
·  Bode expiatório: quem recebe a carga negativa, as reclamações do grupo, deixando-o mais leve e produtivo.
·   Sintetizador: é o que ouve, percebe o que está se passando no grupo.
·  Coordenador: quem sinaliza as dificuldades que impedem o grupo de enfrentar as tarefas. Ele ajuda os membros a pensar.
·  Observador: quem observa silenciosamente e registra suas observações que servirão para as hipóteses acerca do grupo.


Em suma, estas foram algumas das relevantes contribuições de Pichon para as organizações em geral.

PICHON-RIVIÈRE, Enrique. Processo Grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

Discente: Edla Gama




Enrique Pichon Rivière


A discussão acerca os postulados teóricos de Enrique Pichon Rivière (1907 – 1977) perpassa diretamente pela sua diferenciada estória de vida marcada pela interculturalidade proveniente de sua precoce saída de seu país natal Suíça para a Argentina, ainda muito pequeno.

Essa mudança pontua sua forma de pensar e agir perante as disciplinas que ele vem a encarar: a Medicina, a Psicanálise, e porque não, as ciências sociais de maneira que ele foi envolvido (em especial na juventude) em vanguardistas movimentos culturais.

Assim atuou como pioneiro em trazer a psicanálise para ‘dentro’ de seu consultório médico e ao fundar a Associação Psicanalítica Argentina (Argentina, aliás, conhecida até hoje pela tradição psicanalítica).

Com o desenvolver das perspectivas conceituais destaca-se: o ECRO "Defino o ECRO como um conjunto organizado de conceitos gerais, teóricos, referidos a um setor do real, a um determinado universo de discurso, que permite uma aproximação instrumental ao objeto particular (concreto). O método dialético fundamenta este ECRO e sua particular dialética" PICHON.

Sempre influenciado pela perspectiva social ele considerou aspectos dialéticos da interação social humana, divergindo do posicionamento praxe até então, destacando a importância do outro na construção do seu construto sobre subjetividade.

Assim o vínculo seria uma importante articulação entre as subjetividades de cada um dos sujeitos, marcados pela interação social, importantes para as significações sociais.

Pichon pontua os diferentes níveis onde essas significações sociais ocorrem, a saber, psicossocial (ao nível do individual), sócio-dinâmico (grupos), institucional e comunitário.

Olhando do século XXI parece que o pensamento de Pichon não fez nada além de esclarecer o óbvio; a relativação cultural se faz importante aqui para compreendermos como esses pensamentos que afirmavam a intervenção direta e indireta do ambiente externo no meio interno do indivíduo.    

Destacam-se ainda os conceitos de Cone invertido – esquema de vetores que envolvem aspectos das interações dentro de um sistema e Grupo Operativo – que seria o movimento em um grupo na realização de uma determinada tarefa assim como seu resultado final: quando se tornam manifestos os conteúdos que no inicio do processo encontravam-se latentes, ou seja, aqueles que estavam na base do cone.

O grupo responsável por guiar a apresentação trouxe ainda os papéis exercidos pelos diferentes sujeitos dentro de um sistema (por ser alguém consciente dos aspectos sociais nas instituições humanas Pichon conseguiu visualizar a execução de papéis como o sabotador, o líder dentro da dinâmica empresarial).

Por fim é importante destacar o aspecto visionário de Pichon ao compreender os sistemas e a própria modernidade como estrutura complexa, mutável que se recicla, se altera e evolui continuamente.

Referência

Artigo publicado originalmente na página Webhttp://www.geocities.com/Athens/Forum/5396/ecro.html da Escuela de Psicología Social del Sur - Quilmes - Argentina, aqui publicado com a gentil autorização da autora.

Tradução para o português de Marco A. F. Velloso

** Gladys Adamson é diretora da Escuela de Psicología Social del Sur e da Escuela Argentina de Psicología Social. Artigo publicado no site do InterPsic: Disponível em: <http://www.interpsic.com.br/saladeleitura/EcroPichon.html> São Paulo. 2.000

Discente: Taís Lima

Um comentário:

  1. ECRO ...conjunto articulado de conhecimento, sistema de ideias que proporciona linhas de trabalho e investigação, ... ao segmento da realidade sobre a qual se pensa e opera, possibilitando uma modificação criativa ou adaptativa.

    É um aparelho de pensar que está estruturado na mente (a partir das representações internas do sujeito), no corpo (representação do esquema corporal) e no mundo (representações do ambiente ecológico e social do sujeito). É o que permite o sujeito distinguir, sentir, organizar e operar na realidade. Saliente-se que o sujeito pichoniano é visto não em uma situação de harmonia com o mundo, mas em uma relação conflitiva e contraditória. O sujeito aqui é formado, ou melhor, é o resultado da interação entre os indivíduos, os grupos e classes, indicando sua carência de socialização. (GAMA)

    Assim, o vínculo seria uma importante articulação entre as subjetividades de cada um dos sujeitos, marcados pela interação social, importantes para as significações sociais. (LIMA)
    Saliente-se que a noção de Grupo Operativo nasce da técnica terapêutica de atendimento grupal ... que, inicialmente fora destinada a portadores de psicoses... Mais tarde, passou a ser usada nos âmbitos organizacionais, educacionais...
    ...idealizado por Pichon para avaliar o movimento no interior de um grupo durante a realização de uma tarefa e seu resultado final, quando se tornam manifestos os conteúdos que no início do processo encontravam-se latentes. O princípio básico é promover, por meio de técnicas integrativas, o processo de mudança do grupo. Esta mudança acarreta no medo das perdas das condutas existentes e o medo do ataque da nova situação...
    ·Pertença: sentimento de fazer parte do grupo.
    ·Cooperação: contribuição para o desenvolvimento do grupo...
    .Tele: empatia entre os participantes.

    · Líder de mudança: é o componente que provoca mudança através de sugestões.
    · Líder de resistência: é o que tenta manter o grupo na mesma situação em que se encontra, ou seja, é o conservador.
    · Porta-voz: é o que traduz os sentimentos e as ideias que circulam no grupo.
    · Bode expiatório: quem recebe a carga negativa, as reclamações do grupo, deixando-o mais leve e produtivo.
    · Sintetizador: é o que ouve, percebe o que está se passando no grupo.
    · Coordenador: quem sinaliza as dificuldades que impedem o grupo de enfrentar as tarefas. Ele ajuda os membros a pensar.
    · Observador: quem observa silenciosamente e registra suas observações que servirão para as hipóteses acerca do grupo.(GAMA)
    Você foi uma das "provocadoras" do processo prático que estamos tentando encaminhar na turma. Acho que já demos alguns passos. Fizemos um TESTE SOCIOMÉTRICO. Podemos ir mais além. Mobilizando o seu grupo você ajudará bastante. Conto com você.
    Abs,
    Icó

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