segunda-feira, 15 de julho de 2013

As relações domésticas entre amor e dominação

As relações domésticas entre amor e dominação

O texto do qual tratamos nessa seção refere-se à construção da identidade do sujeito e sua relação com o trabalho. Como o afeto é inerente ao desenvolvimento dos sujeitos, Dejours defende que há a participação do amor nos ambientes organizacionais, pois não há possibilidade de dissociar sentimento (familiar) de trabalho (social) e demais relações. Em sendo assim, os acontecimentos da vida particular do sujeito perpassam o ambiente organizacional.

Dejours conceitua identidade como a unidade da personalidade que compõe o sujeito e é construída no decorrer de sua vida, sendo então, um processo dinâmico. Já o amor é o sentimento referencial reproduzido a partir dos fatores oriundos do ambiente particular: o identitário (sentimento/reconhecimento de si a partir do outro), o vínculo (afetos, a exemplo do amor, constituídos nas relações amorosas), e o sexual. Esses fatores, desenvolvidos na instituição familiar, são utilizados como mecanismos para as realizações das tarefas no trabalho. O vínculo, por exemplo, no que tange às relações de dominação e submissão que acontecem no espaço particular/familiar pode refletir nos ambientes organizacionais. Entende-se então que, aquele que se comporta de maneira submissa ou dominante em família, o faz também na empresa.

Enfim, Dejours apresenta a questão dos gêneros/sexos no trabalho de reprodução. Ele diz que há negação e/ou reconhecimento das diferenças anatômicas entre os sexos e dos seus “respectivos” trabalhos, considerados distintos, o que acaba por influenciar na aceitação (ou não) da realidade. Em sendo assim, sugere-se que, o sujeito torna-se submisso quando identifica e reconhece os aspectos da realidade, enquanto o sujeito que não é capaz de reconhecer esses aspectos, por meio da negação, exerce o domínio.

DEJOURS, Christophe. As relações domésticas: entre amor e dominação. In: LANCMAN, Selma; SZNELMAN, Laerte I. (org.). Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004.


Discente: Edla Gama.



As relações domésticas entre amor e dominação

O que é o trabalho?

Ao fazer essa pergunta, é inevitável (pelo menos pra mim) não associar ao ambiente empresarial e ao trabalho 'braçal', mas essa atividade está presente de outras maneiras no nosso dia-dia e foi sobre essa perspectiva que Dejours se apropria para mostrar a relação entre trabalho e saúde mental, relação esta abordada em um dos textos anteriores.  
Essa relação é o que permite que as psicopatologias e os problemas no trabalho não se limitem apenas as questões imediatas e pontuais como Burnout ou estafo físico/mental, mas que vai além muito, além disso: e envolve tudo o que nós vimos nesse semestre - a construção da identidade, aa relações de transferência e contratransferência trazidas do ambiente familiar, a utilização de outras formas de inteligência além da teórica, os reflexos das emoções e sentimentos no meio organizacional, e as reproduções de situações, anseios e desejos no grande teatro do trabalho que cada um percebe de uma maneira diferenciada.
Esses reflexos reverberam também no ambiente doméstico, através dentre outras coisas: da divisão doméstica das atividades, das hierarquias propostas na família e dos aspectos de dominação e submissão implícitos nessas relações, e é isso que Dejours procura esclarecer nesse texto que finaliza a disciplina cuja proposta foi ampliar a estereotipada ótica do profissional da psicologia no meio organizacional, tentando mostrar que prestar serviço a uma empresa não implica em 'vender a alma a ninguém' o psicólogo na organização antes de contratado de uma empresa é a priori um psicólogo em função; e isto implica em tantas questões éticas e particulares que - opinião pessoal – nada melhor que nossa inteligência da prática para ilustrar melhor e nos ensinar a como agir.         
Pessoalmente achei interessantíssimo propor esse texto em especial em uma época que as empregadas domésticas, profissionais quase que emblemáticas estão finalmente aparecendo como profissionais que é o que de fato elas são. Infelizmente, o cansaço e esgotamento impossibilitaram uma leitura mais aprofundada sobre o que Dejours propõe, mas que facilmente cumpre o papel de finalizar inovando as perspectivas que nós já estamos cansados de ver: é o estranho-familiar.
Talvez esse cansaço tenha impedido minha capacidade de compreender melhor alguns conceitos como o retrieval, por exemplo, que não ficou totalmente claro pra mim; mas a relação que Dejours faz entre trabalho e o elo real de Lacan foi para mim esclarecedor de alguns aspectos, como as inacabáveis estratégias de defesa que o corpo/psique deflagra como uma forma de auto preservação que novamente quando exagerados podem se tornar patologias.
Voltando um pouco para a realidade doméstica, há aí uma complexa esfera de relações que se trata da esfera do amor (que simbolizaria o outro) envolvendo aspectos sexuais, identitários e de estabelecimento do vinculo, essa esfera é de fundamental importância com ênfase ampliada quando se trata do injustamente desmerecido trabalho doméstico e da distribuição de tarefas no lar, mas que não está excluso de interferir também no trabalho dito formal.


DEJOURS, Christophe. As relações domésticas: entre amor e dominação. In: LANCMAN, Selma; SZNELMAN, Laerte I. (org.). Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004.

Discente: Taís Lima



 


sábado, 13 de julho de 2013

Entre sofrimento e reapropriação: o sentido do trabalho

Entre sofrimento e reapropriação: o sentido do trabalho

 Sumariamente, Dejours indica a estreita relação entre a evolução do trabalho e o desenvolvimento da tecnologia, por conta das diversas possibilidades de mudança que o trabalho propicia. O autor salienta que os aperfeiçoamentos tecnológicos apresentam benefícios e malefícios ao trabalhador, porquanto podem auxiliar na preservação da sua saúde, bem como trazer dificuldades no trato com as mudanças o que ocasiona mais sofrimento ou substitui o sofrimento superado pelo benefício, afirmando que não há organização sem sofrimento, embora tente se adaptar à dinâmica tecnológica.

Saliente-se que o “novo” estimula a conduta dos trabalhadores, facilitando a comunicação entre os mesmos, oque os motiva. Por outro lado, esse mesmo “novo” pode ser tratado com indiferença ou com a denúncia, o que incorre na resistência às mudanças. Isto exige um saber olhar e lidar da organização para com os seus colaboradores. Tornando importante apresentar, com clareza, as novas propostas.

Como não dá para separar vida pessoal da vida organizacional – até mesmo pelo fato de as duas esferas comporem a socialização do sujeito –, verifica-se que há necessidade de formação de cidadãos que colaborem com a empresa, que ousem falar, que escutem. A organização deve fazer sua parte ao não se eximir de suas responsabilidades para com os seus trabalhadores que buscam no trabalho o sentimento de si, a dignidade.

DEJOURS, C. Entre sofrimento e reapropriação: o sentido do trabalho. In: LANCMAN, S. SZNELMAN, L. (org.). Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2004.


Discente: Edla Gama



Entre sofrimento e reapropriação: o sentido do trabalho  

Dejours prossegue no texto 'Entre sofrimento e reapropriação: o sentido do trabalho' trazendo aspectos envoltos nas construções trabalhistas do padecer se aprofundando progressivamente em fundamentos psicanalistas o autor dimensiona o trabalho em três esferas: o sujeito, o real, e o outro.
Sob essas três perspectivas, Dejours apresenta ações e iniciativas que podem auxiliar e tornar o ambiente trabalhista menos patogênico; espaços de discussões (formais e informais), a verdadeira ação de escutar, por exemplo, podem dar aberturas para aspectos e demandas abafadas pela opressora realidade cotidiana do proletariado. Dessas formas veem a tona aspectos pessoais e inconscientes da realidade trabalhadora que, muitas vezes, podem estar agindo como empecilho para a operalização de um ambiente organizacional intrinsecamente produtivos.
Em seguida Dejours evidencia dois aspectos que se fazem presentes nas organizações: a indiferença e a denúncia - se a primeira surge como uma resposta última a experiencias anteriores (esta, aiás, me relembrou a critica generalizada que Dejours aponta ao inidividualismo - que é visto como causa de problemas e não consequencia); a denúncia surge como uma espécie de oposição a indiferença e quando exarcebadas ambas podem estar implicadas na mal gestão de comunicação. Assim Dejours pincela algumas considerações sobre a esfera do trabalho (a esfera real), a esfera social (o sujeito/construção social) e também a esfera amorosa (a esfera do outro).
O ser humano é como conhecido incompleto, mas disparidades em uma dessas esferas intensifica essa não completude podendo levar para aspectos patológicos e somáticos. É então um mito (derrubado?) acreditar que o funcionário pode ao "vestir a farda da empresa" incorporar uma personalidade paralela, o trabalho assim inevitavelmente interfere nas esferas pessoais, sociais e domésticas assunto abordado no próximo resumo.

DEJOURS, C. Entre sofrimento e repropriação: o sentido do trabalho. In: LANCMAN,S. Da psicopatologia á psicodinamica do trabalho. 2004.

Discente: Taís Lima
 



quinta-feira, 11 de julho de 2013

Inteligência prática e sabedoria prática

 
Inteligência prática e sabedoria prática


Neste texto, Dejours conceitua inteligência como a habilidade de lidar com as situações e a capacidade de resolução de obstáculos. Para tanto, não basta o saber. Há sim, a necessidade do saber-fazer que, nas palavras do autor, refere-se à inteligência prática, astuciosa, adquirida a partir da experiência do sujeito, por isto, é considerada arraigada em seu corpo, pois é através deste, com suas percepções, que se manifesta criativamente, de maneira particular, sendo fundamental para a solução de problema e efetivação do trabalho prescrito.

A inteligência prática é uma das dimensões do trabalho que se movimenta entre a diacronia (ontologia do sujeito) e a sincronia (contexto social, organizacional no presente), ou seja, tem influência sofre influência das ocorrências passadas e atuais.

Supõe-se que o desenvolvimento da inteligência prática ocorre com a contribuição da epistemofilia – curiosidade de conhecer, saber das “coisas” –, dos jogos, da angústia dos pais que desencadeia o sofrimento da criança que, quando adulta encena, como no teatro, as situações vividas no trabalho. Em sendo assim, há uma conversão do sofrimento em inteligência astuciosa, ou seja, o sofrimento cria a inteligência prática, que pode ser interpretada, inclusive, como mecanismo de defesa da estrutura psíquica do sujeito, motivo pelo qual não pode ser podada nas organizações que, por vezes, engessam a criatividade do trabalhador.


DEJOURS, Christophe. Inteligência prática e sabedoria prática. In: LANCMAN, Selma; SZNELMAN, Laerte I. (org.). Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004




Inteligência prática e sabedoria prática: duas dimensões desconhecidas do trabalho


     O que é ser inteligente? A resposta para essa pergunta se encontra nos testes de QI? Nas provas das melhores universidades? Nas provas esportivas de alto desempenho? Na execução da quinta sinfonia de Beethoven? Ou na administração de empresas multimilionárias? Em todos esses lugares. Ser inteligente é mais que ser detentor de conhecimento; ser inteligente envolve astúcia, sagacidade, paciência, empatia, e muita bastante esperteza.
     É partindo do pressuposto de que a inteligência não é uma dimensão absoluta e inata, mas antes uma energia (pulsão) adquirida com base nas experiências familiares e sociais que Dejours apresenta outras formas de considerar e pensar a sabedoria que não apenas os escores e as ocasionais notas.
     No ambiente de trabalho, essa inteligência – sagaz, malandra, pautada na experiência; também pode vir surgir como o saber-fazer, aqueles macetes que só os profissionais conhecem (adquirem através da prática), e que manual nenhum pode oferecer; a inteligência prática não é dada, ela é adquirida.
      Essa inteligência, destaca o autor, é inscrita e alimentada pelo corpo, o corpo a incentiva antes de tudo por um motivo primário e etológico: sobrevivência. Nos ruídos do ambiente de trabalho, no silêncio perturbador, nas vibrações inadequadas, os alertas estão a todos os momentos ativando a linguagem básica e primaria do homem: a linguagem do corpo – porque antes de aprender a escrever ou a pintar nas cavernas, antes de aprender a falar, o homem das cavernas aprendeu a correr, a ouvir e a trabalhar ferramentas com as mãos; essa ‘sabedoria’ foi antes de tudo compartilhada socialmente pelo olhar, pelo sentir, antes que as primeiras palavras tenham sido pronunciadas a comunicação corporal se fez presente e todos nós carregamos essa comunicação e esse tipo de alerta interno conosco.

Esse breve histórico nos apresenta as cinco características básicas desse tipo de inteligência – a inteligência prática:

                              É fundamentalmente enraizada no corpo;
               É mais importante o resultado da ação que o caminho percorrido para chegar aos objetivos;
                              Está presente em todas as tarefas e atividades do trabalho;
                              Possui intenso poder criador;  
                               É amplamente difundida entre os homens;

        A criatividade facilmente alimentada pela astúcia e engenhosidade é paralela à inteligência prática, e por isso tem papel importante nessa caracterização. Essa inteligência abordada por Dejours funciona por tanto como uma pulsão, uma energia motivacional que move as pessoas para saídas mais confortáveis e mais eficazes (em amplos sentidos); mas o ambiente organizacional – em especial aqueles mais clássicos e limitativos podem recalcar essa pulsão; isso ocorre em parte por uma defasagem entre aquilo que o funcionário tras para a empresa: aspirações, desejos, a própria imagem do que seja exercer determinada função e o que de fato acontece: será que ser um funcionário público representa maciçamente tanta estabilidade e segurança assim? E se o funcionário acabar trabalhando em uma instituição instável e precária e acabe se vendo preso em um amontanha de burocracia e morosidade sem perspectivas de crescimento profissional? E então?
             É nesse espaço de defasagem que brota o sofrimento tanto psíquico quanto corporal – para o bem e para o mal eles não estão separados um do outro. A diferença entre a dimensão sincrônica e diacrônica de cada um marca a existência dessa angústia que tanto pode paralisar como mover e motivar a depender justamente da diacronia de cada um: entra aí a historia singular, as experiências infantis, o teatro do trabalho representado na infância pelos jogos e pelas brincadeiras; todas essas ressonâncias simbólicas ecoam na forma de cada um agir perante os desafios – ou a falta deles – no âmbito organizacional e por isso não podem ser desconsiderados ou colocados em segundo plano como propõe abordagens mais antigas e engessadas da intervenção da psicologia organizacional.
           Ao fazer as pesquisas para esse trabalho foi assim inevitável nos situar onde e como estão essas práticas, qual a demanda, se há espaço para a consideração de outros aspectos que não apenas aqueles mais pontuais como as queixas, e os problemas cotidianos. Conforme vimos na disciplina o estudo e a formação do profissional organizacional e psi como um todo possui uma defasagem que se faz presente também nesse setor, mas ainda há esperança!  Da medicina alternativa, a práticas de terapias não-tradicionais, as pessoas tem enxergado cada vez mais um pouco além e nesse meio não é diferente.
           Empresas tem se dado conta de que a administração horizontal pode ser muito mais útil e produtiva que o modelo hierárquico cheio de déficits. E também que não apenas a saúde física é importante uma vez que o bem estar psíquico está diretamente ligado a primeira. Para ilustrar essas questões a frase de Dejours que melhor simboliza isso é:
Se as condições de trabalho tem impacto sobre o corpo físico, a organização do trabalho atua diretamente na psique.
          Cabe também e pincipalmente a direção perceber aqueles fatores que não são ditos, ou postos em fichas e formulários para reclamação; e isso não pode ser feito trancado em escritórios no alto da torre porque isso envolve uma vivencia e percepção aguçadas, certa sagacidade e um olhar e ouvir apurados: isso envolve a inteligência prática.
       Uma administração atual eficiente, dessa maneira, não só utilizaria sabiamente da própria inteligência astuciosa, mas acima de tudo da inteligência astuciosa dos funcionários. Quem faz um trabalho todos os dias cinco, seis vezes por semana, inevitavelmente pode encontrar caminhos, soluções e ‘sacadas’ que não precisam interferir na lógica e teoria da execução do trabalho, mas que pode facilitar a dinâmica social, maximizar o aproveitamento do tempo e melhorar a eficiência da segurança. Com uma boa condução obviamente essas práticas podem, sim, evitar acidentes, mal-estar e tédio no ambiente de trabalho, e cabe a diretoria abrir esse espaço: a inteligência astuciosa estará presente no ambiente de trabalho “Está presente em todas as tarefas e atividades do trabalho”, e o líder do século XXI é aquele que sabe como conduzi-la. Utopia? Pretensão? Loucura?
       Talvez. Assim como era utópico ir de um continente a outro em algumas horas antes de Santos Dumont desenhar o primeiro protótipo de um avião, por exemplo. A engenhosidade humana não tem limites, por que não aproveita-la?
             

Referencia:
DEJOURS, C. Inteligência prática e sabedoria prática: duas dimensões desconhecidas do trabalho real. In: LANCMAN, S.; SNELWAR, L. I. (Org.). Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Fiocruz; Brasília, DF: Paralelo 15, 2004a. p. 277-299

Discente: Taís Lima
 


segunda-feira, 8 de julho de 2013

Filme Fora do Controle

 Reflexões acerca do filme Fora de Controle


O filme em comento foi dirigido por Roger Michell e conta com dois personagens principais Gavin Benek (Ben Affleck) e Doyle Gibson (Samuel L. Jackson) cujo encontro se dá – em uma manhã de sexta-feira santa, em Mahattan, Nova York – por meio de uma colisão, envolvendo os carros dos dois.

O acidente é o ponto inicial para a trama que envolve um advogado (Gavin) a defender uma causa milionária e um pai de família (Doyle), alcóolatra em tratamento, a lutar para reconquistar sua esposa e seus filhos.

Inicialmente, Doyle é prejudicado por Gavin cujo problema não deseja resolver imediatamente após o acidente, pois encontra-se atrasado para uma audiência e, na tentativa de livrar-se de Doyle, Gavin acaba por lhe dar um cheque e, junto a este, uma pasta com documentos importantes da empresa para qual trabalha. Coincidentemente, Doyle também tem uma audiência na qual chega atrasado, o que lhe prejudica diante da juíza e da sua esposa.

Quando Gavin nota não ter a pasta em mãos, desespera-se. É, praticamente, aqui que o filme começa: dois homens desesperados, por diferentes motivos. Esse desespero é o desencadeador dos fatos que sucedem no decorrer do filme.

Diversas questões são elencadas, a exemplo da ética, do comportamento humano, dos valores morais, dignidade, honestidade, responsabilidade, dentre outros. Todos esses aspectos estreitam a relação entre vidas pessoal e profissional, inclusive porque, para cumprir seu papel profissional, Gavin deixa de cumprir da maneira mais correta, seu papel pessoal de cidadão ao não acertar-se com Doyle, no momento exato.

Saliente-se a importância da comunicação tanto nos âmbitos pessoal como no profissional. Talvez se ambos tivessem, desde o início, estabelecido uma comunicação clara, não haveria tantos conflitos, os quais colocaram à prova, a saúde mental de ambos cujas ações eram efetuadas de maneira impulsiva, levando-os à perda do controle da situação.
O filme pode ilustrar várias outras discussões como as que envolvem a família como fonte – ancestral – de apoio psíquico, o alcoolismo como fator desestrturante das relações,   capitalismo, os mecanismos de funcionamento das organizações, a relação de poder entre chefe e empregado, dentre outros.

MICHELL, Roger. Fora de Controle. Título Original: Changing Lanes. EUA, 2002. Disponível em <http://www.filmesdanet.net/2012/04/fora-de-controle-dublado-filmes-gratis.html.> 99 min. Colorido. Sonoro. Dublado. Acesso em 01/07/2013.



Discente: Edla Gama



                                            Resumo do filme ‘fora de controle’



Fora de Controle (Changing Lanes, 2002, EUA, Direção: Roger Michell). Consequência. Essa seria a palavra que melhor definiria o filme em questão. A consequência da pressa, a consequência de subjugar as pessoas, a consequência de descontar as frustrações nas pessoas ao redor, enfim a consequência de nossos atos. No filme Gavin Banek (Bem Affleck) está a caminho de um julgamento que mudaria o rumo de uma milionária instituição de caridade, enfrentando o trânsito, atrasado, quando se envolve em um acidente com Doyle Gispson (interpretado por Samuel L. Jackson), e que por coincidência está a caminho do mesmo tribunal, na tentativa de recuperar sua família, mas que acaba ficando no meio do caminho, uma vez que Gavin não apenas tenta ‘suborná-lo’ como o deixa sozinho no meio de uma ponte.
Dadas as devidas apresentações é bom destacar que o filme tem o aspecto positivo de ser basicamente bem realista pra um filme de Hollywood, tenho uma sincera dificuldade em me concentrar em filmes onde em menos de 24 horas o protagonista desarma uma bomba atômica, salva a humanidade, e ainda vai jantar com a família, embora também fiquei um pouco atônita com a solução final do filme. Foi tudo meio simples de mais, a família perdoou o alcoólatra inveterado, o tubarão da Wall Street (o sogro do Gavin) se dobrou a um advogado iniciante, em prol de um final feliz?
Se o fim foi meio frustrante o desenrolar da história é mais que eficaz em ilustrar alguns aspectos da disciplina. O conflito ético entre Gavin e a empresa que ele trabalha é pra mim o ponto alto do filme uma vez que toda essa discussão sobre transferência, ressonância simbólica e história singular e o teatro do trabalho está simbolizado na quase que edípica relação entre Gavin-Cynthia-e seu pai (que não por acaso é sogro e chefe de Gavin). Visto como símbolo e status de bem estar por Gavin, ele também simboliza aquilo que Gavin pode vir a se tornar ou não. A depender das consequências de suas escolhas.  
Os padrões morais de Gavin começam a ganhar destaque a medida que contrariamente ele vai interferindo na vida de um desavisado que supostamente fez algo que não devia (não seria essa a função do advogado?) e a dimensão diacrônica dele se choca com o padrão ético (?) proposto pela firma. Afinal de contas, o trabalho prescrito é uma coisa, o executado é outra, e é nessa dimensão (por vezes esquecida) que nasce o sofrimento de Gavin, e a maioria do sofrimento de milhões de trabalhadores mundo afora.   
Assim o filme ilustra também como os aspectos pessoais estão intrinsecamente ligados aos profissionais e a impossibilidade de separa-los como se propõe por inúmeras vezes concepções ultrapassadas do sujeito no trabalho.
A trama do filme (tirando o final, na minha opinião) é assim bem desenhada mostrando como o ser humano muda quando se sente ‘acuado’, como desenvolvemos fortes mecanismos de defesa em prol da preservação não só da espécie, mas também do status, dos cargos, das figuras públicas que representamos. Todos os personagens assim possuem papel importante no desenrolar das consequências daquele acidente inicial. E quanto mais Gavin tenta consertar seus erros, mas ele se percebe se tornando cada vez mais a emblemática figura de chefe/líder/sogro/pai que representa o dono da empresa de advocacia que ele trabalha, e se percebe desejando ser justamente o contrário.
Ao voltar ao ponto inicial do filme – quando um Gavin machucado e frustrado se recosta no carro quebrado e velho de Doyle, o filme deixa a mensagem que o que fazemos têm consequências reais, para nós mesmos, para os outros, e (no âmbito de trabalho) para a empresa; porque é impossível ignorar as histórias pessoais, e o passado, mais cedo ou mais tarde essa extensão foge do nosso controle.    

Fora de Controle. Ficha técnica. Disponível em: http://www.interfilmes.com/filme_v1_13402_Fora.de.Controle.html#Elenco.      

Discente: Taís Lima