Uma nova visão do sofrimento humano nas
organizações (Dejours) & Situação da Formação e das Atividades de Trabalho
(Zanelli)
Através de seus estudos acerca das
psicopatologias como oriundas dos ambientes de trabalho, Dejours tem
contribuído para conceituação do sofrimento, bem como a investigação de sua
etiologia, sugerindo que suas raízes encontram-se na relação do homem com o
trabalho.
Seu despertar para o sofrimento humano emerge
dos aspectos que envolvem a revolução industrial e o capitalismo: crescimento
da produção, robotização, mecanização, fragmentação das tarefas, êxodo rural,
dentre outros. A precariedade da época
era de se assustar, pois os trabalhadores viviam menos, o número de acidentes
era elevado, o trabalhador não tinha apoio de leis trabalhistas. A situação era
de sobreviver, como trabalhar só para ter o pão, e não viver além das
necessidades fisiológicas. Esta situação, inclusive, fora chamada de “miséria
operária”.
O sistema rígido do trabalho torna o ambiente
organizacional opressor, ameaçador, sacrificante, fazendo emergir uma sensação
de incapacidade no trabalhador e, consequentemente, seu sofrimento,
desequilibrando-o psiquicamente, o que é refletido no corpo. Desta forma, o
sujeito torna-se vítima do seu trabalho, embora seja beneficiado pelo mesmo.
Dejours descreve os sofrimentos insuspeitos que
influenciam, a favor ou contra, no desenvolvimento do sujeito no ambiente de
trabalho. São eles: o sofrimento singular que abrange uma dimensão diacrônica
da vida do sujeito, pois é construído no decorrer da sua vida psíquica;
sofrimento atual, que se encontra em uma dimensão sincrônica; o sofrimento
criativo, que faz com que a pessoa desenvolva estratégias defensivas para lidar
com as opressões da organização do trabalho e consiga manter sua saúde; e o
sofrimento patogênico. Este funciona de modo contrário ao anterior: aqui a ação
produzida pelo sujeito é desfavorável para a sua saúde.
Em sendo assim, sofrimento mental se
constitui na luta do sujeito contra as adversidades da organização do trabalho,
que pode acarretar a doença mental, pois em sua dinâmica, pode proporcionar elementos
que favoreçam a saúde ou o processo de adoecimento.
Enquanto psicólogos em formação, há de
pensarmos em nossa prática profissional no ambiente organizacional. Para tanto,
conta-se a contribuição de Zanelli que trata em seu texto “situação da formação
e das atividades de trabalho”, de importantes questionamentos sobre a formação
e atuação do psicólogo organizacional no Brasil.
Ele se debruçou sobre a identificação e a
análise das necessidades do psicólogo e das demandas organizacionais. Questões
como o processo de ensino, conhecimento, habilidade, abordagens teóricas,
métodos, instrumentos, atuação, profissional, dentre outros, são abordados.
Zanelli faz crítica ao processo de ensino,
pois direciona a formação dos psicólogos para o modelo médico, não preparando
psicólogos organizacionais, considerados agentes de mudança, devendo estar
preparados para as demandas sociais, dos trabalhadores etc. A atual prática
universitária dificulta a transformação dos ambientes organizacionais. Sugere-se
que haja mudança nas matrizes curriculares ou que ampliem a formação
organizacional para atender as demandas da contemporaneidade.
DEJOURS,
C. Uma nova visão do sofrimento humano nas organizações. In: CHANLAT, J.F. O
indivíduo na organização. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1996.
ZANELLI, J. C. Situação da Formação e das Atividades de
Trabalho. In: ______ O Psicólogo nas Organizações de Trabalho. Porto Alegre:
Artmed, 2009.
Discente: Edla Gama
Uma nova visão do sofrimento humano nas organizações (Dejours) & Situação da Formação e das Atividades de Trabalho (Zanelli)
No texto “Situação da
Formação e das Atividades de Trabalho” Zanelli (2009) destaca a precariedade do
ensino da psicologia como ciência sobressaindo-se a matéria psicologia
organizacional, apontando algumas possíveis causas para que isso aconteça.
O autor prossegue
abordando a história da psicologia organizacional no Brasil, com paralelos
entre a institucionalização da profissão com o desenvolvimento da psicologia
clínica em detrimento da organizacional e da educacional.
O texto aborda ainda as amplas
funções (muitas das quais desconhecidas) dos profissionais organizacionais
destacando que muitas vezes além de não terem contato com muitas delas na sua
formação eles ainda se apresentam despreparados para muitas das atividades que
lhes são atribuídas. O que causa uma ‘má impressão’, no meio trabalhista com
uma estereotipação que atinge inclusive aqueles que se inserem na academia já
direcionados para a atuação clínica (associada erroneamente a um liberalismo
ocupacional).
Tive uma sincera dificuldade
em traçar um paralelo entre os dois textos trabalhados, uma vez que eles estão
trabalhando temas com perspectivas completamente distintas e não pude
acompanhar a discussão que costuma esclarecer muitos aspectos do tema semanal,
mas destacaria o subtópico quase final do texto de Zanelli sobre o predomínio
do modelo médico que, ao elucidar sobre como esse modelo remediativo de
‘reinserção na normalidade’ confere status a psicologia clínica dentro da
Psicologia geral. Esse modelo reflete diretamente na maneira como esse
psicólogo irá se inserir na organização (o autor destaca que os psicólogos
organizacionais vêm de formações clínicas).
Assim ele entra na empresa
com o ideal de adaptar o profissional as condições – muitas vezes adversas – de
trabalho.
Esse pensamento ‘bate de
frente’ com a proposta de Christhophe Dejours (1996). A afirmação de que ao
mesmo tempo em que o homem é beneficiário do trabalho, ele é uma vitima dele,
sem dúvida sintetiza e reflete os direcionamentos que o autor toma em suas abordagens
teóricas sobre o trabalho.
Seguindo por uma linha
psicanalítica o autor aborda diferentes aspectos presentes na psicodinâmica
trabalhista, remetendo a conceitos que o sujeito operário trás consigo para a
execução do trabalho, como o jogo infantil, o teatro do trabalho, e os
elementos por trás da escolha da profissão; destacando entrelinhas que ao
contrário do que se preconiza o trabalho não é uma condição intrínseca do
homem; pelo menos não a exploração do trabalho alheio.
Dejours destaca ainda
algumas classificações do sofrimento, sendo que as que mais me chamaram atenção
foram dois opostos: o sofrimento criativo – aquele que se torna produtivo e
eficiente e o sofrimento patológico – que pode estar por trás de muitas
somatizações trabalhistas mundo afora.
O sofrimento, no entanto
destaca o autor se origina na história de vida desse sujeito e se reproduz no
seu trabalho, sendo este sim intrínseco a condição humana. Não sei se eu não
consegui captar ou se não era a intenção do autor abordar qual então seria a
função do psicólogo nessa instituição.
Referência:
ZANELLI, J. Carlos. Cap. I. Situação da Formação e das Atividades de Trabalho. O Psicólogo nas Organizações de trabalho..
DEJOURS, C. Uma nova visão do sofrimento humano nas organizações. In: CHANLAT, J.F. O indivíduo na organização. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 1996.
Discente: Taís Lima
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