Trabalho
e saúde mental: da pesquisa à ação (Dejours)
Dejours apresenta questões relacionadas à
saúde mental e o trabalho. Ele esclarece que o estado de saúde mental relaciona-se
estreitamente com os mecanismos psíquicos os quais o trabalhador faz uso para
exercer suas atividades mesmo diante das cobranças que lhe são feitas.
Cobranças, inclusive, que desencadeiam os conflitos entre as organizações e o
trabalhador, comprometendo seu funcionamento psíquico. Por meio de suas
pesquisas, verificou-se que os trabalhadores apresentam-se capazes de se
proteger dos efeitos negativos das empresas.
O autor prega ainda, que se deve ir para além
do modelo casualista que relaciona o ambiente de trabalho à patologia
individualizada do trabalhador – ou seja, não se deve reduzir a patologia
apenas às condições físicas ou biológicas, é necessário considerar o caráter
social da organização –, bem como transcender os modelos tradicionais da
medicina.
Sob a perspectiva psicopatológica, estuda-se
os estados da saúde mental, considerando todo o contexto em que vive o
trabalhador, entendendo-o como resultado das relações com o coletivo, ou seja,
com os grupos aos quais pertence.
Saliente-se que Dejours pesquisa – na época,
em uma indústria nuclear – acerca do individualismo triunfante, caracterizado
por comportamentos individuais considerados preocupantes que podem ser
desencadeados pelo distanciamento entre o trabalho prescrito e o real – o que
se pode chamar de desvio de função –, dando origem a conflitos que, por sua
vez, resultam no sofrimento psíquico.
No decorrer da investigação, Dejours
identificou que os trabalhadores, diferente dos executivos, utilizavam-se de
mecanismos de defesa que são decisivos no que diz respeito à linha que divide o
sofrimento que estimula para a ação e o sofrimento patológico.
DEJOURS, Christophe. Trabalho e saúde mental
(cap.3). In____Psicodinâmica do trabalho,p.45-65.São Paulo:Atlas,1994.
Discente: Edla Gama.
Trabalho
e saúde mental: da pesquisa a ação
Dejours
propõe nesse texto uma (re)visão sobre os conceitos tidos como básicos quando
se tenta analisar os meandros da patologia no trabalho. Ele enfatiza a importância
do social, através das interações sociais em toda dimensão operacional, e o
estigma embotado pelas abordagens clássicas do estudo de saúde mental, do
trabalhador quase que alienado, fora do contexto histórico/político; imagem que
gerou um mal estar do profissional psi dentro das organizações.
A
partir dessa base o autor apresenta uma indústria nuclear e uma pesquisa
desenvolvida na mesma, por razão de que os funcionários apresentavam uma série
de comportamentos que indicavam que havia ali algo que não estava ‘bem
encaixado’, partindo da construção do discurso sobre a importância do
individualismo no trabalho, e investigando como tal individualismo se faz
presente além dos aspectos do sofrimento psíquico que estão no cerne do seu
aparecimento.
Um
aspecto extraído junto da base operária é a prática do “quebra-galho”
constantemente subjugada e desmerecida e que tem na sua inteligência astuciosa/prática
não um item de aquisição de valor, mas como um defeito remediável. Essa prática tão comum é retrato da defasagem
já cita aqui entre o que é prescrito como norma trabalhista e o que de fato é
executado. Envolve ainda confiança e a polemica ‘tática do segredo’ que pode transformar
o não-dito em algo nefasto para as organizações, gerando um mal-estar, um
ambiente de desconforto, fechando os grupos sobre si mesmos e fazendo aflorar a
desconfiança, o rancor e a sabotagem.
Na
pesquisa junto aos empresários Dejours constatou um movimento de devolução
desse ‘espaço fechado’, culpabilizando a suposta individualidade exacerbada dos
funcionários, a incompetência e a falta de preparo técnico das equipes,
afastando profundamente administração – gerencia – operários, desconsiderando
que estes fazem parte da mesma cadeia de funcionamento que se intitula
ORGANIZAÇÃO.
Assim
Dejours se aprofunda na tese do individualismo discretamente apontando que esse
é o menor dos problemas, porque antes de ser uma doença do novo século é um
sintoma, que na organização surge como um mecanismo de defesa. Mesmo que pelos
discursos pareçam que todos os problemas modernos de relação social residem na
exacerbação individualista (não só nos escritórios, mas também fora deles)
Dejours aponta que ao contrario do que se prega o trabalhador não se torna passivamente egocêntrico, mecanismos da
empresa fazem com que ele atue de
forma a defender suas subjetividades, não em um passivismo egoísta, mas em uma
extrema (e por vezes exaustiva) atitude de se preservar.
É
desse mecanismo de defesa, o autor sugere que se faz o ponto de partida para as
discussões, do que esses operários/alunos/pacientes estão se auto preservando
tanto? O que no mecanismo empresarial/acadêmico/clinico está o levando a se
manter em uma forma insustentável de coexistência? Esse deve ser o ponto de partida para a
construção de um campo/espaço de debate e construção sobre as interações
sociais no trabalho e suas consequências no desenvolvimento da organização e na
saúde psíquica dos trabalhadores.
DEJOURS,
C; ABDOUCHELI, E; JAYET, C. Psicodinâmica do trabalho.
Discente: Taís Lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário