Relações de transferência na empresa: confusões e atritos
no processo decisório
Este texto faz alusão ao
fenômeno da transferência nas
relações, especialmente, dentro das organizações. Inicialmente, o autor elucida
a transferência como um fato
universal que se encontra em todas as relações entre pessoas, contribuindo para
dar algum significado. Seria a condução do sentido
atribuído a pessoas do passado para pessoas do presente. É necessário salientar que as relações de transferência
não têm sua origem de acontecimentos pontuais, mas sim, por meio de
representações duradouras. É um fenômeno executado pelo
inconsciente que faz emergir um “fantasma”
que altera os sentimentos e as reações de um sujeito em seu relacionamento com
o outro.
Sabendo disso, é importante
considerar a existência desse fenômeno nos ambientes de trabalho, pois se detectada
a tempo, pode ser combatida a fim
de que não haja prejuízos, em todos os sentidos.
Do contrário, pode
influenciar no uso do poder, na tomada de decisões, nas mudanças, dentre outros.
Os autores tratam de três
estruturas de transferência:
- Idealizada: refere-se às emoções de uma fase precoce do desenvolvimento psíquico. Há uma busca pela felicidade perdida. O subordinado se une com a pessoa idealizada, supervalorizando-a de todas as formas e estabelecendo uma relação de dependência alta, aspectos que facilitam que seja manipulado. Aqui, se o subordinado não tem a quem admirar, ficará desnorteado, incapacitado de tomar decisões, ou seja, sem autonomia. Há forte tendência às desilusões.
- Narcisista: aqui, há uma vaidade exacerbada de si mesmo, necessidade de receber elogios, de ser bajulado, é instável emocionalmente, principalmente quando não está no centro das atenções. Embora não mostre interesse no que acontece ao seu redor, é ambicioso, o que pode levá-lo a cometer atos sem medir as consequências.
- Persecutória: nesta, o sujeito faz uso de mecanismos de defesa para resolver seus conflitos, dividindo suas ações nas classes bem e mal. Sob essa perspectiva, o sujeito sente-se perseguido e desenvolve o sentimento de hostilidade para quem lhe “persegue”. As consequências são negativas, por quanto envolvem o masoquismo moral – volta-se contra si mesmo, sentindo remorso por hostilizar alguém –, a inveja, o ataque ao outro, a emergência de emoções inconvenientes, dentre outros.
Enfim, pode-se
inferir que situações de conflitos nas relações entre pessoas nas organizações,
podem ser oriundas das transferências que acontecem inevitavelmente. Como
vimos, quando a transferência é identificada a
tempo, torna-se mais fácil de “controlar”
ou prever os acontecimentos. Mas se acontece o contrário,
pode trazer consequências catastróficas
para as organizações e aqueles que a compõem.
VRIES,
K. MILLER, D. Relações de
transferência na empresa: confusões e atritos no processo decisório. In:
CHANLAT, Jean-François. O indivíduo na organização: dimensões esquecidas.
São Paulo: Atlas, 1993.
Discente: Edla Gama.
Relações
de transferência na empresa: confusões e atritos no processo decisório.
Transferência é a
projeção pelo individuo de um estado afetivo sobre determinada pessoa.
Os autores do texto ressaltam a
negligência administrativa desse importante conceito, que infere diretamente
nas questões relacionadas a distribuição, aquisição e execução de poder e as relações
e interações sociais nas organizações.
Os
autores continuam trazendo as características próprias da transferência tais como:
seu caráter inconsciente (na grande parte das vezes as pessoas não percebem
essa transferência), do fato de ser construída socialmente através das relações
sociais e familiares desde a infância, e ilustram essa situação com o didático caso
do funcionário que sendo o irmão mais novo de uma numerosa família, transferiu para
a empresa mecanismos quase que patológicos de defesa de uma intrusão que não existia
(mais) em nenhum ambiente além de seu
campo psíquico.
De
maneira geral Freud caracterizou a transferência em positiva (quando facilitava
o processo de análise) e negativa (aquela em que o paciente inconscientemente embota
sentimentos e sensações ruins na figura do analista). Posteriormente vários
autores vão utilizar dessa principio básico de Freud para se aprofundar na
teoria da transferência dando a devida ênfase para sua importância em outras searas
como a escola, e as empresas. Para analisar a importância no ambiente
organizacional os autores destacam três classificações da transferência, que
interfere diretamente em especial no processo de decisão e consequentemente na
direção das supracitadas organizações:
A
transferência idealizada – Que como o próprio nome diz é a idealização exacerbada
dos chefes e lideres a ponto de deixar de enxergar o que de fato aquela pessoa
é para idolatrar o que ele supostamente representa. Negativamente suscita em
funcionários apáticos e que não conseguem conceber uma dinâmica de resolução de
problemas sem a presença atuante do chefe/líder.
A
transferência Narcisista – Quando o funcionário se julga completo, perfeito e inabalável.
É a completude para o primeiro tipo de transferência. Obviamente representa um
perigo para empresa por desconsiderar os colegas, os funcionários em prol
daquilo que julga absolutamente certo.
A
transferência persecutória – Quando um indivíduo possui um sentimento de perseguição
constante que auto sabota suas oportunidades de progredir. Ocupado se
defendendo de tudo e de todos; ele dificilmente produzirá, criará ou
representará algo de inovador para a instituição.
Assim
como a transferência emoções como a inveja, o masoquismo moral e a hostilidade
também são trazidos do histórico pessoal e familiar de cada funcionário (a
dimensão diacrônica de cada um) interferindo diretamente no funcionamento da
empresa e sendo, portanto importante considera-los.
O
artigo é finalizado com a conclusão que esses aspectos são relegados, nos
trabalhos e intervenções da psicologia organizacional, em detrimento de
questões mais práticas, objetivas e pontuais, para a empresa.
Assim
a sugestão dos autores é que se forneçam aos dirigentes conhecimentos, noções
sobre a transferência, a importância de outros conceitos que não apenas as
demandas mais óbvias, presentes não apenas as queixas conscientes, mas também
as dimensões pessoais e singulares que se fazem presentes diariamente nas
empresas. Assim possa-se talvez começar a pensar e refletir sobre essas questões
não assumindo (embora não desconsiderando) um caráter preventivo, um tanto que
profilático, das emoções e diversas possibilidades de interações dentro do
ambiente de trabalho.
In:
CHANLAT, Jean François. O indivíduo nas organizações: dimensões esquecidas, vol
III.
Discente: Taís Lima