As relações domésticas entre amor e dominação
O texto do
qual tratamos nessa seção refere-se à construção da identidade do sujeito e sua
relação com o trabalho. Como o afeto é inerente ao desenvolvimento dos
sujeitos, Dejours defende que há a participação do amor nos ambientes
organizacionais, pois não há possibilidade de dissociar sentimento (familiar)
de trabalho (social) e demais relações. Em sendo assim, os acontecimentos da
vida particular do sujeito perpassam o ambiente organizacional.
Dejours
conceitua identidade como a unidade da personalidade que compõe o sujeito e é
construída no decorrer de sua vida, sendo então, um processo dinâmico. Já o
amor é o sentimento referencial reproduzido a partir dos fatores oriundos do
ambiente particular: o identitário (sentimento/reconhecimento de si a partir do
outro), o vínculo (afetos, a exemplo do amor, constituídos nas relações
amorosas), e o sexual. Esses fatores, desenvolvidos na instituição familiar,
são utilizados como mecanismos para as realizações das tarefas no trabalho. O
vínculo, por exemplo, no que tange às relações de dominação e submissão que
acontecem no espaço particular/familiar pode refletir nos ambientes
organizacionais. Entende-se então que, aquele que se comporta de maneira
submissa ou dominante em família, o faz também na empresa.
Enfim, Dejours
apresenta a questão dos gêneros/sexos no trabalho de reprodução. Ele diz que há
negação e/ou reconhecimento das diferenças anatômicas entre os sexos e dos seus
“respectivos” trabalhos, considerados distintos, o que acaba por influenciar na
aceitação (ou não) da realidade. Em sendo assim, sugere-se que, o sujeito torna-se
submisso quando identifica e reconhece os aspectos da realidade, enquanto o sujeito
que não é capaz de reconhecer esses aspectos, por meio da negação, exerce o
domínio.
DEJOURS, Christophe. As relações domésticas: entre amor e
dominação. In: LANCMAN, Selma;
SZNELMAN, Laerte I. (org.). Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro:
Editora Fiocruz, 2004.
Discente: Edla Gama.
Discente: Taís Lima
As relações domésticas entre amor e dominação
O que é o trabalho?
Ao fazer essa pergunta, é inevitável (pelo menos pra
mim) não associar ao ambiente empresarial e ao trabalho 'braçal', mas essa
atividade está presente de outras maneiras no nosso dia-dia e foi sobre essa
perspectiva que Dejours se apropria para mostrar a relação entre trabalho e
saúde mental, relação esta abordada em um dos textos anteriores.
Essa relação é o que permite que as psicopatologias e
os problemas no trabalho não se limitem apenas as questões imediatas e pontuais
como Burnout ou estafo físico/mental, mas que vai além muito, além disso: e
envolve tudo o que nós vimos nesse semestre - a construção da identidade, aa relações
de transferência e contratransferência trazidas do ambiente familiar, a utilização
de outras formas de inteligência além da teórica, os reflexos das emoções e
sentimentos no meio organizacional, e as reproduções de situações, anseios e
desejos no grande teatro do trabalho que cada um percebe de uma maneira
diferenciada.
Esses reflexos reverberam também no ambiente
doméstico, através dentre outras coisas: da divisão doméstica das atividades,
das hierarquias propostas na família e dos aspectos de dominação e submissão implícitos
nessas relações, e é isso que Dejours procura esclarecer nesse texto que
finaliza a disciplina cuja proposta foi ampliar a estereotipada ótica do
profissional da psicologia no meio organizacional, tentando mostrar que prestar
serviço a uma empresa não implica em 'vender a alma a ninguém' o psicólogo na
organização antes de contratado de uma empresa é a priori um psicólogo em função; e isto implica em tantas questões
éticas e particulares que - opinião pessoal – nada melhor que nossa inteligência da prática para
ilustrar melhor e nos ensinar a como agir.
Pessoalmente achei interessantíssimo propor esse texto
em especial em uma época que as empregadas domésticas, profissionais quase que
emblemáticas estão finalmente aparecendo como profissionais que é o que de fato
elas são. Infelizmente, o cansaço e esgotamento impossibilitaram uma leitura
mais aprofundada sobre o que Dejours propõe, mas que facilmente cumpre o papel
de finalizar inovando as perspectivas que nós já estamos cansados de ver: é o
estranho-familiar.
Talvez esse cansaço tenha impedido minha capacidade de
compreender melhor alguns conceitos como o retrieval, por exemplo, que não
ficou totalmente claro pra mim; mas a relação que Dejours faz entre trabalho e
o elo real de Lacan foi para mim esclarecedor de alguns aspectos, como as inacabáveis
estratégias de defesa que o corpo/psique deflagra como uma forma de auto preservação
que novamente quando exagerados podem se tornar patologias.
Voltando um pouco para a realidade doméstica, há aí
uma complexa esfera de relações que se trata da esfera do amor (que simbolizaria
o outro) envolvendo aspectos sexuais, identitários e de estabelecimento do
vinculo, essa esfera é de fundamental importância com ênfase ampliada quando se
trata do injustamente desmerecido trabalho doméstico e da distribuição de
tarefas no lar, mas que não está excluso de interferir também no trabalho dito
formal.
DEJOURS, Christophe. As relações domésticas: entre amor e
dominação. In: LANCMAN, Selma;
SZNELMAN, Laerte I. (org.). Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro:
Editora Fiocruz, 2004.
Discente: Taís Lima